não é em mim que eu começamos,
me destinamos ao infinito
e é lá bem longe onde eu daremos.
só é contar-me ao longo do cordão,
sim-a-sim, mão-a-mão.
eu não sou poucos,
sou isso todos.
e só assim
existiremos.
se tudo ficar mais grave,
se a gravidade aumentar
até soterrar e matar nossa voz,
que ela então morra semente
pra renascer do solo canção
e ser ouvida em bom som
em qualquer canto da terra.
o rádio de pilha chiando a madrugada
um quase pedido de silêncio ao silêncio
um jeito quase estranho
— mas hoje nada mais é estranho —
de esperar pelo anúncio
do teu nome a chegar.
pelo menos do teu nome
a chegada.
por voz que não seja um delírio.
ainda que seja tua.
a chegada.
não quero acreditar
que até mesmo a esperança
tem vivido cabisbaixa.
prefiro supor que foi a luz
—a do fim do túnel—
que se afundou sob este chão
pra aprender lá no Japão
como faz pra se reerguer.
duas cidades dentro de minha cidade,
cada uma guardando seus seres peculiares:
os fantásticos, que vivem da areia da praia pra lá;
e nós, mergulhados em nosso mar de normalidade,
vivendo submersos, da areia da praia pra cá.
não sei traduzir, talvez transcrever.
mas sou pobre de palavras
e a transcrição é rala.
sempre tem quem
entenda tudo
errado,
muito errado, errado demais.
ontem transcrevi o universo
—é fácil transcrever—
com os sete vocábulos que lhe bastam
e ela me disse: "você me traduziu".
li e reli. no fim,
fiquei sem saber dizer.