31 de jul. de 2020
pistas
dobramos com o tato
a esquina do mundo.
migalhas de dia fartando
pra todos os lados do prato
vasto marinho profundo
afundam saídas por nós preteridas.
preferimos por ora ser ora
perdidos, ora o próprio labirinto.
a noite
com todas suas pistas
não pode não ser
pra famintos.
30 de jul. de 2020
saídas
restou à flor
descomplicar o verbo
do meu verso
restou a mim
conversar
com meus botões
aos meus botões
restou florir
25 de jul. de 2020
flor de flores
quero contigo
um passeio
ao centro
da flor
de flores margeadas
por alvas espadas
de bem-querer.
numa das margaridas
de mário de andrade,
o tempo suficiente,
quem sabe até tarde,
onde todas as horas do mundo
viessem nos ver.
22 de jul. de 2020
belezas corais
posso de novo ir a fundo
lagostas, ouriços, enguias
mas nunca mais me confundo
algas, corais, cantorias
se é real, até pode ser isca
caranguejos de bancos de areia
se for sonho, porém, não belisca
estrelas, medusas, sereias
à sombra do tempo
a correria da vida segue comigo.
a sombra dos ponteiros mantém,
mesmo no escuro frio, seu galope vivo.
já a pressa de viver, essa correu de mim
desde que as nuvens anunciaram
que mais vale a vida de quem planta chuvas,
deixando ao tempo a colheita dos rios,
dando à sede o controle dos níveis.
ninguém sozinho tem sede e mãos pra rio inteiro
e a pressa em disparada agora segue longe.
mas mesmo longe a pressa dá sinais
de ainda estar com suas presas em mim.
20 de jul. de 2020
18 de jul. de 2020
desabandono
ruínas de antigas moradas
aprendendo a morar
na impertinente esperança de musgos
na manta hospedeira de nadas.
17 de jul. de 2020
o sísifo de dentro
se, fora, um faz rios de rochas,
o outro, dentro, e a própria luta eterna:
liberdade à boca da toca,
libertar-se do breu da caverna.
15 de jul. de 2020
a correção da paisagem
eu,
tornado
o grande lago
corrijo-me,
tornado
a esquerda margem
corrijo-me,
tornado um tornado
para ser das margens
catarse
corrijo-me
e de tanto que me corrijo
vou-me tornando o antepassado
do quase.
10 de jul. de 2020
substâncias do sono
não fosse sonho
seria nada
ou seria encontro de matéria
para além do que orquestraram nossas mãos
e não precisaria estar arquivado
em meu inventário de inexistências.
9 de jul. de 2020
exceções da gravidade/3
a palavra para
a saudade do mote
é glosa.
para
a de linhas cansadas
de súbitas
quedas,
prosa.
a palavra para
a saudade do ouvido?
boca (colando-se
ou calando-se,
mas sempre fazendo história).
no entanto, a palavra para.
enquanto é a palavra que sente saudades,
esvoaçam palavras da própria memória.
8 de jul. de 2020
6 de jul. de 2020
5 de jul. de 2020
longínquos
o paralelismo suficiente das distâncias
mas um qualquer estrabismo
para a desistência de infinitos
tão longínquos
3 de jul. de 2020
exceções da gravidade/2
cumular-se:
uma tendência de tudo.
mas e a manutenção dos abismos,
de que escavadeiras dependem?
exceções da gravidade
do teu pescoço
o pingente e o cordão
por um querer vil
se enforcam
esse tipo de morte
um espetáculo
mas só porque nesse pátio
que é o teu peito
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