a cidade vadia estendeu sua mão
e me deu certo amparo: um farrapo e um chapéu
um sabor de anteontem, solvendo o de fel
e uma barba que esconde-me o couro, o borrão
abro mão de qualquer posição favorável
contentando-me em ter um nariz como escudo
que ora despe meu ego e me faz quebrantável
ou me envia tal qual quebra-gelo ao sisudo
troco idéias com Chaplin ou Lewis
me confino com o Emmett Kelly
as saídas sutis?
escrevi sobre a pele
não limito os meus pés a vagar
peito aberto, meus podres à mostra
atiço teus vermes
destampo-te as fossas
Parece-me um interessante esboço da anatomia das cidades. Ou melhor, não exatamente da anatomia delas, de uma forma geral, mas sim uma lente macroscópica sobre certos pontos desta anatomia que a sociedade prefere deixar invisíveis. O homem marginalizado é o mais triste dos clowns; reduzido à este orgulho rancoroso de trazer "os podres à mostra", ele possibilita através do lirismo bruto do seu poema uma espécie de acerto de contas: o ato de destampar as fossas na via pública. E se este acerto de contas só se faz concreto no plano poético, é tão mais lírico (e necessário enquanto reflexão) quanto as maiores utopias humanas. Gostei muitíssimo. Obrigado
ResponderExcluir*PS: ali em cima era "micro" e não "macro", que eu queria dizer.
ResponderExcluir:)
Escrevemos sobre as peles!
ResponderExcluirBárbaro teu blog, já add.
axe!
Entre DOIS PONTOS, uma imensidão temática ...
ResponderExcluirParabéns pelo blog!
;~]
Se fóssemos ao menso metade honrosos como ele, não só pelo que seja, mas pela tarefa que o faz, seríamos com certeza, nessa vida elegantes da maneira mais sutil...e divertida
ResponderExcluirMuito bom o seu blogger!
ResponderExcluirO honroso vadio é uma bela imagem de Diógenes - 'O cínico'
Parabéns.
Esse seu jeito de escrever, que libera emoção e não voje a realidade, acho muito foda. Muito fino!!!
ResponderExcluirseu blog é muito bom e seus trabalhos são ótimos, um boa semana.
ResponderExcluirMeus Deus!
ResponderExcluirQuanta inspiração!
Teu talento em breve será reconhecido por muitos e muitos...
Não há como ser diferente!