31 de out. de 2017

levada


eu não tenho coisa alguma
nem o que levo comigo é meu
tudo que tenho
é o que me leva

30 de out. de 2017

majestações


basta o dia demitir-se
e o sonho perdoa toda realidade

as ruas demonstram o que há nas casas
as casas, o que há nos lares
os lares, o que há nas almas

mesmo assim --e por isso mesmo-- a realidade erra
reduz-se, contida; não se mostra inteira

somente à noite algumas almas encontram lar
à noite admitida, as almas vão habitar os sonhos
nos sonhos, as almas se tornam reais

27 de out. de 2017

l'unicque/lúnica


sou prisioneira das fases, das claves do Sol
eu orbito (não nego!), mas não me assossego
e provoco-me a sós

vou além e provoco-te em danças de mares
que acorrem a mim; e nas luzes que furto
de brisas solares

e a plenos pulmões, me aproprio de um canto
que canta os desejos da rouca voz minha
que canta na louca voz minha

desejos que finjo
não serem
os meus

18 de out. de 2017

duas ilhas


ilha de gelo
solta e cercada de mar
não é barco
não sabe o que é continente

ilha gelada
solta e vagando o vazio
não é nave
não sabe o que é constelar

astro falso ou geleira obelisca
distantemente assemelhadas
qualquer hora retorna oceano
qualquer hora apenas faísca

11 de out. de 2017

inimponente


equilibrei na cabeça meu caminho marginal
e o levei para uma periferia mais adequada

sumirão as pegadas casuais de cruzamento
ficarão os passos da leal caminhada de rumo
(pra quem é caminho, todo pé faz carinho
para as distâncias, todo caminho é convite)

as placas de seta apontei pra o poente
e até o universo surpreendeu-se com a transgressão
(quem só busca o sol nascendo não vai entender
mas pra quem ruma ao poente, faz sentido
não querer ver o sol partir)

10 de out. de 2017

pendular


aquelas folhas secas caídas
juntadas pela mesma vassoura
apanhadas pelo homem de sempre

naquele chão de todo dia
que cada dia nasce novo chão

não são as folhas secas de sempre
as varrições nunca são iguais
o homem já não é o mesmo

5 de out. de 2017

ridículo


ridículo
por não saber lidar
com seu gostar tamanho,
tornou-se indigno de quase tudo
digno somente do riso vil
completamente risível
(às vezes nem isso)
de tanto que é
ridículo

1 de out. de 2017

alento


cabeça girando
cadência das brisas
não sei onde pisas
se chegas ou quando

mas chegas exata
me encontras baldio
e enchendo o vazio
teu vento me cata