28 de fev. de 2019
3 perguntas subentendidas
quando você fala
de mergulho profundo,
você está falando das grandes distâncias percorridas
na vertical, para baixo, em quilômetros,
numa densa solução líquida
qualquer?
ou se trata das trajetórias
descritas sem qualquer inércia
por cada um dos muitos
vazios
presentes em tudo,
inclusive no mais ínfimo
de nós?
27 de fev. de 2019
a manutenção do tempo
o deserto alimenta a floresta,
como a lembrança alimenta e mantém o tempo.
mas eterno nada é,
nem a lembrança nem o deserto nem o alimento.
eternizar-se é ser esquecido.
25 de fev. de 2019
24 de fev. de 2019
problema físico
queria eu ter rompido com você
muitas barreiras
até sermos como a luz:
superar não sei quantas vezes
a barreira do som
sem sequer chegar
a zunir.
depois,
dar um passo à frente
da própria luz
pra desmentir o tempo.
zero
que confuso ter topado
esperar pelos seus passos.
de um jazz improvisado
sempre tem o inesperado.
drum fuzzy cool jazz—
é cada música
nessa física quânti-
ca da música.
e eu sou um zé
tomando nota
tocando a nota
tomando a nota
que me faz caber.
22 de fev. de 2019
21 de fev. de 2019
voo absoluto
tem olhar
que espanta
o voo
e tem olhar
que espanta
o medo.
o medo se admirou
por conhecer de seu menino
todo o poder de voo
depois de servir
de pista de decolagem
para dois olhos.
que espanta
o voo
e tem olhar
que espanta
o medo.
o medo se admirou
por conhecer de seu menino
todo o poder de voo
depois de servir
de pista de decolagem
para dois olhos.
20 de fev. de 2019
reflexos em frações
aquele espelho
que me pegou pra eterno
desfez-se em muitos cacos.
caco de espelho
é diferente de caco
de vidro.
se você se corta no caco
que levou
de meu espelho,
quem sangra sou eu.
se você procura ver
algo de mim
no caco que possui
de meu espelho,
se espantará com um olhar
que já foi meu.
que me pegou pra eterno
desfez-se em muitos cacos.
caco de espelho
é diferente de caco
de vidro.
se você se corta no caco
que levou
de meu espelho,
quem sangra sou eu.
se você procura ver
algo de mim
no caco que possui
de meu espelho,
se espantará com um olhar
que já foi meu.
18 de fev. de 2019
o ermitão
sair fortalecido da ventania
por saber que a mãe do vento
é tua voz.
quantas vezes fossem necessárias
eu trocaria de casa
para manter-me no mesmo lar
onde se fabrica a voz do mar.
16 de fev. de 2019
melhor mesmo se eu fosse um
dos muitos tipos de arquiteto
que a natureza comporta:
quase não se importar com a porta;
viver sob o mesmo céu como teto.
e eu seria um,
eu seria mundo.
que a natureza comporta:
quase não se importar com a porta;
viver sob o mesmo céu como teto.
e eu seria um,
eu seria mundo.
14 de fev. de 2019
placa indicativa
se alguém chegar até
você
e disser que finalmente encontrou
o que tanto tanto procurava
e se você sentir o mesmo
mesmo sem saber
que estava
e o que estava
procurando a esmo,
foi isso o que lhe veio a acontecer:
a pessoa achou a si
e você achou
você.
não perca isso
por nada nesta vida,
mesmo que venha a perder
quem pode ter sido sua
imprecisamente bela
placa indicativa
indicando
tão precisamente
você.
você
e disser que finalmente encontrou
o que tanto tanto procurava
e se você sentir o mesmo
mesmo sem saber
que estava
e o que estava
procurando a esmo,
foi isso o que lhe veio a acontecer:
a pessoa achou a si
e você achou
você.
não perca isso
por nada nesta vida,
mesmo que venha a perder
quem pode ter sido sua
imprecisamente bela
placa indicativa
indicando
tão precisamente
você.
13 de fev. de 2019
atirado
de ser culpado
eu não me furto
mas do pé proibido
mordida a carne
o suco chupado
depois cuspido
também fui
o fruto
8 de fev. de 2019
mundo caos
até parece que somos
ora os cachorros
ora os rabos
ora corremos atrás
ora descaso
e só vez em quando
uns abanos
fenomenologia dos teus olhos
mesmo se acontecer
de o olho se pôr,
a luz do olhar
persistirá.
o que fica
é um contínuo bater de asas
perpetuando a primavera
aquilo que eterniza-se,
no máximo
adormece
enquanto descumpre
a condição descartável
do casulo.
7 de fev. de 2019
dois pontos, fecha parêntesis
tua alegria meia-boca
vou alargando pelas beiras
até tomar largura
de tua boca inteira
6 de fev. de 2019
madeira de sustento
ao peito desengessado,
reconquistar firmeza
na articulação da maioria
das velhas palavras.
àquelas que remetem
ao teu encanto,
ainda ranger e estalar
como madeira de sustento
rangendo e estalando
ao arrepio do vento.
5 de fev. de 2019
por sua cabeça
ora a sua mão,
ora seu não.
a boca entreaberta
ainda na pirraça
de nada dizer.
puxões afoitos,
suplicantes empurrões,
enlaces
e lançamentos.
quem dera fosse hoje
o dia a me querer.
quem dera
nos tocasse
carlos gardel.
agarrado
coceiras &
comichões
estomacais.
não se trata de fome
e nem seria o caso
de comer umas
unhas.
atrás de mim
o tempo corre em disparada
atrás de mim
enquanto gargalhando
eu sempre escapo
tá pensando?
agora só sou meu
pensamento
4 de fev. de 2019
desfale-se
levando em conta o veneno
que me trouxe à extinção,
o soro
único
possível
a restabelecer em ti
a minha vida
talvez ainda exista
e seja o justo
extremo oposto
"tenho tudo pra dizer-te"
articulado sem quaisquer artifícios
pela mesma boca tua
que igualmente tem carecido
desfalecer.
3 de fev. de 2019
o desengarrafador de vazios
a realidade a afogar-lhe
enquanto escorre como é:
líquida volátil
ainda que volumosa.
que até torna-se útil o convite
para desengarrafar
vazios.
aproveita então todo esse estado
para também desinundar-se
daquilo que for possível
com o pretexto de fazer algum estoque
do lenitivo para tanta sede expirada.
2 de fev. de 2019
azul, verde azul
nos tons de fevereiro
as cores e os cheiros
vêm do mar da bahia
e da alfazema rainha
1 de fev. de 2019
a criatura na fornalha
ao tentar contabilizar
quantos deuses
teve o homem que criar
enquanto barro,
isto concluiu
a criatura na fornalha:
deuses
como o diabo.
invasões hemisféricas
que significado pode ter
um sonho que convence
ter habitado nova casa
de tão demorada e aquecida a estadia
naquele
naquele
abraço?
respondi nada,
a não ser despertar
abrasado.
Assinar:
Postagens (Atom)