30 de nov. de 2019
a posse
possuir apenas o querer
sem a coisa querida
sequer o saber
ou aceder
sinaliza uma sina:
uma posse invertida:
a coisa em si não é sua;
o provável é que ela o possua.
palavral
do frêmito das folhas,
o frêmito dos lábios.
e um sussurro se propaga
quase incônscio, quase sábio
do fundo da garganta
ao fundo do fundo
da alma.
29 de nov. de 2019
28 de nov. de 2019
céu fecundo
quis um céu
em pleno cio
voar dentro dos olhos
de um desalado
que nem eu.
e não sei se era noite,
não sei se era nuvem.
céu fecundo, eu só sei,
pelo outro céu que me nasceu.
27 de nov. de 2019
25 de nov. de 2019
recurso
com as vozes do passado
não quero um diálogo.
viagem do tempo só existe pra luz.
o que às vezes ocorre
é coisa diversa:
uns braços de rio
a darem-se as mãos.
24 de nov. de 2019
muito
não te quero amar tudo.
nunca te quis amar tudo.
porque pode-me ser pouco.
o mapa que carrego
não traça seus limites
e nada sabe sobre tudo.
navegar até seu fim não quero,
quero navegar até o fim de mim.
23 de nov. de 2019
andarilha
com os pés refaz as pontes
e reconstela as minhas ilhas
brisa andarilha
vento peregrino
você que me lê com total precisão
preciso que me leia bom destino
com a palma calma de sua mão
22 de nov. de 2019
21 de nov. de 2019
19 de nov. de 2019
epílogo
nem que seja
um último ato,
buscar o buraco
onde as esperanças morrem
pra finalmente enterrar
o buraco.
14 de nov. de 2019
12 de nov. de 2019
graça do vento
tão demorada a queda
que o abismo se fez morada
e aquele que cai
já nem lembra que cai.
vai leve levando seus dias
como se de vento fosse a estrada
como se de dança fosse o vento
como se de canção o silêncio.
e assim vai tão leve
que o que nos parece breve
pela graça do vento
vai se tornando em doce e lento.
8 de nov. de 2019
prelúdio
desde a eclosão
até o último pouso
um allegro
ora cedendo
a tensões diminutas
ora crescendo.
breve
porém belo
como o prelúdio de bach
da suíte pra cello.
é o tempo é o tempo
a quem é de voar.
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