19 de jun. de 2019


cobre-me a manta noturna.
não é muro
o escuro diante de mim.
é estrada entreaberta,

corda em que bambo dispus
a contragolpe meu abismo e meu céu.
a borda do breu
também é borda da luz.

18 de jun. de 2019

antiglaciais


hábeis operários
de fábricas de fogo,

que a mínima fagulha conseguem
gerar roçando o pelo

mesmo das pedras
de gelo.

13 de jun. de 2019

a.tu.a.ção


resultantes de tantos vetores...
mas quem somos nós neste agora?
neste tempo atuante que mal nos ancora,
somos protagonistas ou meros atores?

6 de jun. de 2019

escala beaufort, grau 6


passantes marchando a menos
de 40 quilômetros por hora

avenida paralela
trânsito emaranhado

caído empapado capa com avarias
protegi eu mesmo meu exemplar
do pesado demais para a ventania

outros danos são noticiados
e oyá já não tolera esta cidade
fraca demais pra ventos frescos

5 de jun. de 2019

através


tive que passar
por pessoas
e não passei bem.

melhor dizendo,
tão bem
eu passei,

que acabou

que em algumas

fiquei.

2 de jun. de 2019


mar ausente
mar ausente

fecha os olhos,
navegante

tanto marulho
nunca foi de mar

1 de jun. de 2019

tocata e fuga


que mal-faz ser amante só do vento
e se entregar enxuta, bruta, dura
ao escultor repleto de ternura
ávido por me pôr em movimento?

que mal-faz persistir no encantamento
daquilo que me toca com usura
e desistir de quem, lá na lonjura
diz tocar, mas só toca o pensamento?

palavras, astros, nuvens... tão remotos!
vendavais, raios, chuvas valem mais.
o amor que me faz bela de verdade

precisa mais de gestos que de votos.
eu dedilhar em mim felicidade,
tocar-me o amor próprio, que mal-faz?