30 de dez. de 2007

haicai v


folhas violetas
ganhando vida e voando...
leves borboletas

16 de dez. de 2007

eu e o tempo



aguarde
e guarde-me em qualquer lugar
em menos de uma hora chegarei aí
e o que restou de mim se reconstituirá
na noite sem ventos
descanso do pranto

pedaços
migalhas que esqueci de mim
lançadas (e perdidas) pelos quatro cantos
colhidas pelas aves que choviam fados
em tempos de nuvens
e seca de alento

se é tarde
conceda-me lavar as mãos
e deixe eu retratar o seu semblante antigo
ainda que coberto por uma erosão
que ao tempo se deve
e que eu consenti

13 de dez. de 2007

cine sonho matinée



afundei minha cabeça nos teus versos
me escondi detrás dos teus sonhos sem cor
e sonhei contigo (um sonho em branco e preto)
em cenário desbotado -- filme noir

vigilante em tuas cortinas de miçangas
esmolei, sem muito esforço, o teu olhar:
as geleiras derreteram-se em torrentes
ao ouvir-te, no sentir-te, ao te ensaiar

quando, enfim, notei-me pronto pra alcançar-te
veio a luz do amanhecer e me alcançou
e, escondido, fui flagrado pelo dia
e, flagrado, dei-me ao dia em furta-cor

11 de dez. de 2007

o peru e o pavão



bafafá, alvoroço no terreiro!
um entrou, o outro monta a confusão,
vai rolar bica-bica e bate-asas:
sim, dois egos inflados – contramão!

canta galo, galinha apavorou-se,
os pintinhos se acuam (que agonia!),
mas o velho d’Angola, incorporando,
rabiscava na terra e predizia:

"galinheiro é pequeno pr’eles dois,
essa rixa já foi longe demais...
ou se ajustam aos moldes do poleiro,
ou se acabam nos próximos natais"

6 de dez. de 2007

maracatu contente



se eu tivesse a mesma força
desse baque revirado
que faz rir e faz bailar
tua estrela rebrilhante,

minhas mãos seriam palco
para tuas sapatilhas
e o meu coração alfaia
batucando tua alegria


eu, porém, pobre baiano
mais treinado em outras gingas,
só consigo (estatelado)
degustar a minha pinga

que é pra me esquentar o peito,
despertar de um quase sonho
e guardar na mente torta
teu maracatu risonho

5 de dez. de 2007

desistentes

Haidee Lima (http://www.flickr.com/people/haidee/)


piso nesta terra
e, em cada falso passo, sinto
o sucinto cadafalso
que deseja me engolir

piso neste chão
-- concreto piso da ilusão --,
onde os pés já não encontram
as raízes dessa gente

relíquias entulhadas das raças,
riquezas ruídas do povo

preparem um golpe de novo
que instigue a nação a cantar

terra de tantas ditaduras,
dite uma nova forma de rimar,
de cantar, sacudir, remexer
(ou votar)

dite de novo o bê-a-bá,
porque a gente vacilou e se perdeu
na tristeza de se ver desmoronar,
na tristeza de perder e desistir

23 de nov. de 2007

cemitério de lágrimas



chuva,
vem lavar-me
os olhos molhados
(de sangue)
e escorrer de mim
um rio vermelho

criar correnteza,
moldando vales e trilhas;
manchando a terra
por onde vais

corra,
murche palavras,
seque sementes,
se despedaçando
e, enfim,

sepulte a tristeza
num mar
que morto
já está

22 de nov. de 2007

andorinhando



todo devoto,
visto-me e volto,
cantando baixinho
ao som dessa aurora,
ao príncipe raio de sol.

mãos calejadas
e asas malhadas
de tanto voar --
vivendo estações,
guiado por outras canções...

volto esmolando
por um verão.
assim, no gerúndio,
vou andorinhando
um ninho pro novo interlúdio.

9 de abr. de 2007

teu olhar


me diz, sem pudor
no silêncio do olhar,
palavras que a boca
temeria falar

esse artifício eu já sei:
vontade de me comprar,
como se algo valesse
o teu olhar, teu olhar

como se quisesse roubar
minha firmeza de mim,
passando revista ao meu corpo,
citando-me em teu folhetim

quando meus olhos, porém,
resolvem te conferir,
dispara infantil e fugaz
o teu olhar, teu olhar

3 de abr. de 2007

vindita bacana



nas vivendas do umbuzeiro miúdo,
onde a luz é repelida e ocultada,
uma bruxa, um cão e o súdito mudo
vestem branco pra mais nova empreitada

ela ensaia o mais recente projeto:
chicotar mais um dos alvos mortais
com sua vara envenenada em dejeto,
resultado de sua fome voraz

testa a língua laminada em seu servo
-- incapaz de reagir com um 'não' --
e prossegue planejando em qual nervo
vai mirar e disparar seu arpão

ia assim, dissimulada de bem,
solfejando uma divina canção
com a língua que servia também
de tridente emporcalhado do cão

só que, nessa, se deu mal a maldita,
porque a vítima era amada de Deus;
logo, teve que aceitar a vindita
de engolir seus tribunais fariseus

(a imagem é do mestre Osvaldo)

28 de mar. de 2007

mais uma, com amor



tantas canções, eu sei...
e cá, mais um
contando as nuvens
pra te ver
e te cantar;

louco para deslizar
nas tuas curvas bruscas
e se deliciar com teu olor –
um cheiro que me cheira a mar.

amar... verbo intransigente
quando penso
e quando ouço tua voz,
o teu jeito lindo de falar.

e vou mesmo repetindo,
teimando em afirmar
tudo ou quase tudo
que outros amantes bobos
disseram em teu louvor:
não há quem seja mais bonita
que tu, minha linda Salvador.

12 de mar. de 2007

haicai iv



de tão esquentada,
Mãe Terra declara guerra
e gira embriagada


(imagem elaborada por Débora Café)

5 de mar. de 2007

amor e festa



luas e mares,
anjos,
mensagens de amor

em nossa festa,
fui teu ladrão-pierrot;
em nossa vida,
tu que roubaste
pra ti
o meu coração
(e eu deixei)

então,
não medi
nem mais fugi;
me escalei,
me intrometi
nos teus sonhos
(bons)

e ao teu lado
só consigo ser
um palhaço em
teu batom



(dedicado a uma linda menina com gosto de café)

3 de mar. de 2007

conveniências

nas festas da falsidade,
o veneno vem em bandejas
e os punhais em lenços servidos

os burros vaidosos
(que confundem vanguarda com vanglória)
pedem-me um discurso,
ao que, ainda imune
aos venenos,
prontamente respondo
sem receber aplausos:

"minhas palavras,
sempre mal ouvidas,
nunca podem ser bem faladas
por serem tão malditas"

eu é que não sou besta:
em terra de cego,
quem tem um só olho
acha a saída
e se pica!

28 de fev. de 2007

gosto



investigue a minha vida,
feche todas as saídas
e me exponha no jornal

remexa meus papéis,
reveja meus postais,
escute meus vinis

tire-me um completo raio x
e disseque a minha alma com suas armas
(e se canse de brincar com suas navalhas)

e se disser que é inatingível o meu sabor,
que o meu gosto nunca dá pano pra manga,
experimente começar do marco zero
(que o marco zero de meu gosto é minha língua)




(imagem do grandioso Osvaldo)

23 de fev. de 2007

sonhador e só

já cansei de querer ser cantor,
de viver todo o esplendor do ator,
ou tentar me habilitar pintor

desisti do ofício de humorista,
sou tão inconstante pra cronista
e indisciplinado instrumentista

muito sedentário para atleta,
um grande ordinário pra poeta,
cheio de pecados prum profeta

mas um dia ganho o meu andor
e um letreiro torto em meu louvor:
"eis aqui um pobre sonhador"

22 de fev. de 2007

haicai iii



finda o carnaval;
um véu se rasga no céu:
sons de temporal.

sou teu carnaval



-- quer saber de mim?

sou cada pedra
encravada no chão do Pelô,
servindo os pés
da passista enfeitada de paz;

sou teu suor
encharcando mil juras de amor,
sou teu sorriso
expulsando de mim os meus ais...

-- quer saber de mim?

sou a magia
encantada do Jaime Figura
bem misturada
à viçosa e alegre doçura

da juventude,
seus cânticos e seus tambores
(bem mais maduros
que dez mil brigadas de dores)

-- quer saber de mim?

sou o molejo
e o trejeito de cem foliões
que engasgam choro
e marchinha, livres de cordões

sou rataplan
do Olodum, pandeiro e berimbau...
abra os teus braços,
sorria, sou teu carnaval

16 de fev. de 2007

a aranha e a ex-amiga



a aranha fica ali na maresia
na marca de seus vinte e poucos meses
tecendo os mesmos fios várias vezes
sem crer que já esgotou sua valia

espera da vizinha (e ex-amiga)
-- que fica só três palmos, logo cima --
as sobras de um mosquito ou uma formiga
cativos de um vigor que 'inda vitima

(a rixa tem suas causas no terreno
lutado e disputado pelas duas,
herdado de um conquistador moreno
que não soube dar conta e foi às ruas)

até que em certo dia uma vassoura
perita em descobrir qualquer sujeira
varreu e despejou duas solteiras:
aranha e ex-amiga -- ex-moradoras.

15 de fev. de 2007

café solidão

a dor que a alma sente
ao perceber-se só
(ao vagar sozinha
exilada nas geleiras árticas)
nem se compara
à sensação que dá
uma xícara amarga e fria
de café
nos fins das tardes
chuvosas, escuras e baldias:

estremece a espinha,
contrai e contorce;
espanta qualquer sono --
lenitivo e fuga
pras dores da alma...

13 de fev. de 2007

brasília vermelha



teu rosto nunca foi estranho,
mas teu sotaque me é incerto:
às vezes és mineiro fanho,
às vezes um carioca esperto.

que o teu vestuário me confunde
não tem nem graça mais dizer...
um dia vestes de desbunde,
noutro trajas gala e chiquê!

até a seca do sertão,
que sempre foi de afugentar,
atapetou nesse avião
e fez-se a marca do lugar.

e veja que evito fender
tua sina com dólar e cheque,
pois sei que não era o querer
nos planos de seu Kubitschek!

passarela


fluxo de sangue mestiço
atarantado em artérias do centro,
pontes-safena em concreto
acumulando andamento demisso...

passa de mim, passa dela,
corre apressado o menino atrevido,
pede licença e penetra
na correnteza de duplo sentido.

feira suspensa no tráfego,
onde o pastor improvisa seu púlpito;
cego tocando uma esmola
com seu flautim e seus dedos de bola;

fora os malandros de gorro,
os que encomendam produtos do cais:
bolsa, relógio e perfume,
vários artigos não-originais.

anda a fileira encolhida
(como num tímido fim de conversa)
rumo ao seu desaguadouro --
veia rompida e sangria dispersa.



(poema posteriormente musicado pelo overparceiro Luciano Carôso)

11 de fev. de 2007

ode ao pai do malandro

da minha janela encantada
contemplo uma estrela nascer
em brilho anos-luz atrasada,
surtindo nas pedras prazer.

soprou-me no ouvido outra história
dos tempos da libertação
que o povo e seus cantos de glória
lavravam no chão da nação.

palavras tão mal acabadas
flecharam o meu coração,
que nunca enjoou das toadas
do mestre da composição.


(homenagem abestalhada a Chico Buarque...
se tiver RealPlayer, veja a razão)

5 de fev. de 2007

mundo fervente



a valsa rasgante de uma sanfona
cobrou de meus pés mais chão pra pisar,
lembrou que os meus passos sempre darão
espaço pra que a alma possa vagar...

vacância embalada em redes trançadas
(balanço do tempo em leves porções),
onde eu me sujeito a ser predicado
daquilo que é simples, sem pretensões.

a valsa rasgante de uma sanfona
rasgou-se do sonho que me embalou
e eu logo acordei num mundo fervente
com passos regrados tal qual robô...

2 de fev. de 2007

Noite mar



(Imagem de Osvaldo Barreto)


Texto I

A noite dorme à cabeceira do mar,
apenas as estrelas,
a natureza dos sonhos,
apenas o veludo da atmosfera,
compreendem,
como irmãos, como amigos
a noite dorme à cabeceira do mar...

Marcos André Carvalho Lins


Texto II

espreito calado
o amor taciturno
que exala tristeza
ao meu coração.

assédios marinhos
desnudam a noite,
despertam estrelas,
defloram luares.

e eu, denso (embargado),
soluço embriagado,
cometo delitos
sem reprovações;

e vou tatuar-me
no ventre do mar,
ao lado da lua,
com quem quero estar.

Carlos ETC


(obra de arte tripla)

1 de fev. de 2007

vida em semibreves



1.
eu vejo as tardes breves
que escapam pelas noites,
eu vejo a vida como a branca lebre
escapulindo do fatal açoite

2.
e risco em linhas leves
pra não gastar a tinta,
e arrisco em notas todas semibreves
nas melodias que essa vida incita

3.
e antes que a tinta falhe,
por mais que a mão vacile,
a vida tenta andar em linha reta
ou, pelo menos, rente aos trilhos firmes

31 de jan. de 2007

nossa bandeira, vaso teu?



mijaram no "lindo pendão da esperança",
no pano que ainda é sem manchas e intacto,
no símbolo casto de um povo que amansa
sua alma arranhada de espinhos de cacto

as águias de garras pseudo-soberanas
não podem querer desbotar a viveza
da arara pintada em rubi e turquesa
co'as águas imundas norte-americanas

que mijem nos copos dos filhos da guerra
forjada pela insanidade cruenta,
mas não na bandeira que "tão sempre" agüenta
secar este prantos dos filhos da terra


(a imagem é do ilustríssimo Osvaldo!)

29 de jan. de 2007

pranto de mulher



até pode fazer tudo o que bem quiser,
mas o único direito que você não tem
é armar essa censura a um pranto de mulher,
às lágrimas choradas pelo teu desdém.

e, veja, não se trata duma vagabunda
que pede teu desprezo para o próprio bem;
nem falo, aqui, também duma pedinte imunda
clamando caridade, sem ter um vintém;

refiro-me, abestado, a quem sempre sofreu
do amor (que ninguém mais conseguirá te dar)
jogado nu'a cadeira da sala de estar,

vivendo da tristeza que lhe anoiteceu.
não digo que se porte tal Édipo Rei,
porém magoar a mãe te faz fora-da-lei.


(a imagem é do ilustríssimo Osvaldo!)

25 de jan. de 2007

coisificando-me



caminho no escuro
(confio mais em meu passos
do que no próprio chão
onde piso)

esforço-me em minha prisão,
tateio o vento,
sinto o ar

penduro-me nas nuvens
e multiplico-me
em possibilidades,
volátil que sou

comprimo-me,
expando-me,
sumo,
mas sou!

(e, assim,
vivo sem nunca desistir,
sem nunca deixar de pulsar,
já que alguém tem de existir
nem que seja por um breve momento

logo eu, que sou
meu próprio pensamento)

23 de jan. de 2007

preço do brilho



gira a menina,
baiana que roda
bolsinha na praia
de Amaralina...

a vã maresia,
o afã por prazer,
mistura de areia
com cana e dendê

baiana retinta,
"parlez-vous français"?
avia, menina,
leva o teu patuá!

que o preço do brilho
da faca que finca
nas tuas entranhas
o dólar é quem banca

e roda a menina,
e sangra e vacila,
baiana que deita
sem vida e sem cama


(imagem gentilmente cedida pelo overmano Osvaldo, que desafiou-me a escrever este texto)

lamentavelmente



podia ser tão diferente...
podia ser pra cima,
podia ser pra frente!

mas o diabo de tua língua,
o veneno amargo de tua língua
põe qualquer um pra baixo,
qualquer um pra trás.

seduz e enfeitiça quem te ama,
e sem nenhum pudor escraviza
até sugar todo o sangue da vida

ou então apaga e aniquila
e derruba toda a estima
de quem não te satisfaz.

podia ser tão diferente...
podíamos não ser indiferentes,
mas se quer ficar nessa,
fique!

estou indo pra cima,
estou indo pra frente!

17 de jan. de 2007

um pedreiro

onde já se viu,
onde já se viu?

um pedreiro
e sua colher
misturando o cimento
e com leves movimentos
fazer alguém chorar,
quem já viu?

atira algumas colheres,
raspa a sobra,
alinha a massa...

enquanto o povo encara
e se comove,
e em soluços
raspa as lágrimas
que fartam nas caras,
quem já viu?

pois eu vi
e me permita consertar.
não é pedreiro,
nem é artista...
a sina desse homem é ser coveiro,
a sina desse homem é enterrar.

poetinhas



não passam de poetas amadores...
uns bestas que mais sonham do que são.
inventam ou enxergam tantas cores
da vida em tons de cinza e sem refrão.

complicam-se em caçar milhões de rimas,
de cima dos telhados da ilusão,
co's olhos que perseguem feito arpão
donzelas e alvas nuvens bailarinas.

-- mas nunca, nunca deixem, amadores,
de andar e amar até faltar a tinta
que marca essa incerteza tão retinta,
queridos, que do amor são professores.

9 de jan. de 2007

soteropoli-trânsito



sob buzinas irritantes e irritadas
levantei sonolento e zonzo,
fui ver quem queria me acordar...

vi o que poderia ser uma miragem
da selvageria
do trânsito
soteropolitano
personificada num estúpido corcel...

mas bem que podia ser também
um pobre cavalo tonto
assustado pelo mesmo trânsito
que não deixa ninguém cochilar!

8 de jan. de 2007

nos playgrounds da lembrança



anda depressa,
o interfone vai tocar!
tamanha pressa
sangra o tempo sem 'stancar...

toca mais uma
que a galera toda, em coro
qual militantes,
cantará um bom agouro!

a roda nossa,
tão repleta de cantores,
compositores
e meninas que amam bossa...

de apaixonados
por cultura popular,
de entusiasmados
por bem mais de um rock star...

tem gente besta
pra chorar e pra sorrir,
peru-de-festa
e até quem nunca mais vi!

fica um pouquinho,
que o relógio amalucou;
bebe esse vinho
que o passado nos deixou.

e caso queiram
esvair-se essas lembranças,
desça mais fundo
nos porões das remembranças

pois nos playgrounds
que habitavam saltimbancos
só restam grades,
o interfone e velhos bancos.

(dedicado aos amigos da juventude, principalmente os que viviam nos playgrounds do Quintas, regados a violão, vinhos e afins)

2 de jan. de 2007

pobre soneto aos pequenos



das lágrimas dos infantes
sinceramente choradas,
doem-me as desamparadas,
sujas e deselegantes.

falo das descamisadas,
não das superprotegidas
nem das que, sempre mimadas,
nunca foram desvalidas.

choro por vidas bandidas:
dos centros são rejeitadas,
nas ruas são agredidas.

choro por barrentas lágrimas,
de esperanças descalçadas
em quente asfalto de lástimas.