31 de dez. de 2019

far all


o que eu já não sei esquecer
prefiro deixar reluzir.
quem sabe assim
consigo ainda evitar.

lugar de encontro:
dois olhares,
um mesmo horizonte.

meu nariz


a criança sumiu.
sumiu a minha criança.

desde quando, eu não sei.
mas depois que me dei conta
deste fato, sinto falta
todo dia da criança.

de repente está brincando...
vai ver que se escondeu
bem debaixo
deste empinado
nariz meu.

27 de dez. de 2019

25 de dez. de 2019


roda o gigante
moinho no mar.
quem pedala nem sente,
mas nada sai do lugar.

19 de dez. de 2019

12 de dez. de 2019


buscar o amor
como quem se orienta na geografia
pelos ponteiros de um relógio.

uma questão de tempo
localizar o erro.

10 de dez. de 2019

teu nome


lembro sempre que mar é o teu nome.
    uma pirraça do mar (ou tua)
        aliar-se à vista da minha janela nua.

6 de dez. de 2019

impedâncias


raio reincidente
se vale, vale somente
pelos novos acertos que faz.

reincidente amor,
erre, mas faça o favor:
sejam novos os erros que traz.

5 de dez. de 2019

rua


da canoa,
desinventei o que era rua
pra chão nunca mais eu pisar.

agora só encontro recosto
na beira terceira do leito,
de onde te chamo a voar
um voo sem voo,

na dança das cheias
e veias vazantes,
um teu jeito de estar-me a tocar.

um qualquer


em meio a tudo,
um qualquer lugar de paz
talvez ainda exista em mim,
pelo que em meus braços
teu sono me diz.

3 de dez. de 2019

memórias


pode ser que não tenha sido
e nem deva entrar no testamento.
podem ter sido apenas versos inventados
deste livro de esquecimentos.

2 de dez. de 2019

em si


mais uma garrafa aberta
  e a mensagem que busca
em si é que está naufragada

o despropósito do leito vazio


se você profanar seu próprio silêncio,
se deixar correr até mim como rio
em palavras e afogamentos
a blasfêmia de seu amor,
garantida estará a salvação
ao menos do lugar
e do curso das águas.