1 de dez. de 2010

o homem sólido


sozinho
ele segue sozinho
e só lida consigo

não se esparrama
nem mesmo se espalha
é sempre contido

estaria impregnado
em tudo o que lhe cerca
líquido ou de gás
leve expansão

mas está só
porque é sólido

é sólido
de solidão

29 de nov. de 2010

sem cera


é uma pena
que a tua sinceridade
tenha achado um lugar
junto à impiedade

fez de mim
carrasco de meu castigo,
os farelos do pão
que eu amasso e mastigo

não me queime mais com duras verdades
me poupe de seus pingos de vela.
devolva, sem cera e apagadas
as frias desculpas sinceras

24 de set. de 2010

o couro do coração


sua vida segue seca
com farinha, sem tutano
no sol que cega os poros

mandacaru cerca-lhe o paraíso
é espinhento o oásis do sertão
com poeira e pouca sombra

o único molho que lhe molha
é a pimenta no seu olho
e o barrento coração

23 de set. de 2010

19 de jan. de 2010

passo a fundo


o compasso do mundo
é um compasso miúdo,
é quem roda o moinho
a momentos moídos

pica-pau, bate-estaca,
corta fundo a navalha,
sangrador não estanca
oh, meu Deus! vem, me valha!

rodo a toque de caixa,
atravesso por brechas,
escorrego nos ralos
e me escondo no chão

4 de jan. de 2010

o honroso vadio


a cidade vadia estendeu sua mão
e me deu certo amparo: um farrapo e um chapéu
um sabor de anteontem, solvendo o de fel
e uma barba que esconde-me o couro, o borrão

abro mão de qualquer posição favorável
contentando-me em ter um nariz como escudo
que ora despe meu ego e me faz quebrantável
ou me envia tal qual quebra-gelo ao sisudo

troco idéias com Chaplin ou Lewis
me confino com o Emmett Kelly
as saídas sutis?
escrevi sobre a pele

não limito os meus pés a vagar
peito aberto, meus podres à mostra
atiço teus vermes
destampo-te as fossas