16 de set. de 2009

autorretrato glacial


dois ursos hibernantes
por fendas entreabertas de meu peito
permitem conhecê-los
enquanto não lhes passa tal efeito

vem-me um medo: que esses ursos enjaulados não despertem
apesar de eu confiar nos dias quentes que virão

então deformo o peito
fornalha bombeando sangue e fogo
desboto minha imagem
é nudez minha ruína, meu esgoto

e ao passar as minhas horas tête-à-tête com o espelho
tento mesmo é espedaçá-lo e mosaicar-me grão por grão

um plágio michelângelo
expondo minha pós-recriação:
a ardente criatura
e o gélido senhor dessa invenção

Um comentário:

  1. Afinal, vocâ quer mesmo que eles despertem?
    Não te dá segurança maior vê-los dormir?

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