28 de out. de 2008

encontro calado


tal como nas noites escuras
de um céu que parece baldio
e esconde o maior desvario
(a lua e o sol consentindo
rendendo-se sem composturas)

assim somos nós em meus sonhos:
o amante devoto e sua santa.
mas Sol logo acorda e levanta
trilhando de novo o caminho
voltando aos seus dias tristonhos

22 de out. de 2008

tratado contra a antipatia


a antipatia, sendo irmã da indiferença
não se adestrou lá nos pilões da cortesia
gesto mais puro, o mais gratuito e o mais singelo
não sai da face nem dos lábios sem ser duro

que a timidez esteja atenta e sempre pronta
a defender-se com as armas de sua tez
seja, o sorriso, um distintivo mui augusto
no livramento mais sagaz de um mal juízo

se ainda assim forem banidos os felizes
do reino alegre em que é perpétuo o bom festim
façam, de graça, um cerco forte aos antipáticos
e com caretas lhes gargalhem de pirraça

20 de out. de 2008

um mundo a esperar


o mundo a esperar
nascer ou morrer
no espelho das mágoas acesas
nas águas barrentas e errantes
um mundo nascente
de imagens avessas

supõe-se paciência
quando é letargia
na espera e na lenta agonia
a lenha que move esse mundo:
dois braços cruzados
de um ser moribundo

e o velho poeta
qual grão-marinheiro
enfim, rasga o mar e o minera
dissonando do próprio futuro
do canto que o guarda
de seu velho mundo

***

um mundo a espera
de outro mundo porvir

9 de out. de 2008

casa de barro, costela de adão


quem vê de fora a casinha
com suas cortinas fechadas
mundo pequeno ao redor
mal sabe o que guardam
suas telhas, suas portas

há quem aposte nas lupas
pra decifrar as minúcias
e desvelar as miudezas:
aposta perdida
engano certeiro

mundo gigante por dentro
céus, dimensões siderais
juntem um mar de lunetas
e os olhos (só dois)
não vêem os finais

quem vê de longe essa moça
quarto em janelas cerradas
vale pensar no infinito
cabendo no mundo
que a mente inventou